O Caminho Está Pela Frente - ex-reitor da UFMT
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O Caminho Está Pela Frente - ex-reitor da UFMT
O CAMINHO ESTÁ PELA FRENTE
Fernando Nogueira de Lima
Em um país caracterizado por elevada concentração de renda, por severas desigualdades sociais, por uma taxa alarmante de analfabetismo e pela incidência da miséria em parcela significativa da sociedade. E mais, afrontado pela violência crescente e corroído pela corrupção desenfreada, calcadas na perspectiva da impunidade, não há o que se falar em contrário à adoção de políticas públicas com o fito de incrementar as oportunidades de acesso e de permanência nos diversos níveis que compõem a nossa educação formal.
No entanto, é imprescindível considerar que não dá para resolver essa questão fundamental da sociedade sem atentar previamente nas condições indispensáveis para que ela realmente possa existir. Em assumir propostas, aceitando palavra por palavra sem refletir e descer ao fundo do seu significado essencial e de seu objetivo real. Agindo dessa forma, corremos o risco de vivenciar um projeto ilusório de mudanças sociais que sequer pode ser incluído no universo da utopia.
A educação vista e exercida como um instrumento de libertação de um povo deve ser capaz de assegurar a inclusão social de todos os cidadãos e não apenas daqueles que por razões econômicas ou outras têm facilidade de acesso à educação.
Essa é uma premissa básica e óbvia. Todavia, e fundamentalmente, para além do acesso e das condições de permanência, a educação deve ensejar a visão crítica e reflexiva sobre a realidade nacional. Isso porque, o propósito deve ser assegurar as condições necessárias e suficientes para promover as mudanças sociais requeridas pela nação e os avanços demandados pelo desenvolvimento científico e tecnológico desejado para o país. Nesse contexto, a meu ver, o imperativo é que sejamos uma grande nação, não necessariamente um grande país.
As soluções para os inúmeros problemas que afligem a educação neste nosso vasto país não podem ser encontradas priorizando-se, a todo e qualquer custo, a quantidade no acesso à educação formal, associada à necessária redução dos níveis de evasão e ao aumento na média de concluintes.
Dessa forma conseguiremos, tão-somente, elevar nossos índices de desempenho nos relatórios oficiais e censos educacionais. Que não se apressem dizendo que sou contra a universalização do acesso à educação ou que sou favorável à reprovação em massa.
Muito pelo contrário, defendo o incremento do acesso à educação em todos os níveis e, em particular, no superior público aqui incluindo cursos noturnos em áreas cuja oferta se dá, tradicionalmente, nos períodos matutino e vespertino.
Além disso, tenho convicção de que o professor está em sala de aula principalmente para aprovar e não para simplesmente identificar limitações do aluno e, por causa delas, reprová-lo.
De outra forma dizendo: contribuir para que os alunos superem suas limitações, não importando a dimensão ou mesmo a natureza dessas limitações, representa tarefa necessária e intransferível do educador. Resta saber quantos de nós concordamos com isso ou em concordando, estamos preparados e exercendo essa tarefa. Portanto, creio que a questão de fundo não é quantitativa.
Qualitativa, essa sim é a sua natureza. Nesse sentido, há perguntas que não se fazem quando não se quer perguntar, quando não se quer saber a resposta ou quando não se sabe sequer que é uma pergunta a ser feita.
Duas delas: que profissional nós precisamos formar e que profissional estamos formando?
O primeiro questionamento nos remete a que modelo de desenvolvimento devemos perseguir na busca de uma sociedade menos injusta e excludente.
O segundo questionamento nos possibilita dizer se mudanças devem ser consideradas em relação a prática educacional vigente: formas de acesso, estruturas curriculares, práticas pedagógicas, paradigmas, etc. que têm influência direta no perfil e na formação do estudante.
Não bastasse, têm influência direta na visão de mundo, nas escolhas e também nas ações do cidadão: no exercício profissional, no cenário político e na sociedade como um todo.
Não dá para esconder o sol com uma peneira. Em grande parte o aluno é conseqüência da ação dos seus educadores. Isso é uma constatação insofismável. Porém, é preciso gritar que a ação desses educadores, por sua vez, depende, em grande parte, do exercício do magistério com condições materiais e práticas pedagógicas adequadas, com condições de atualização continuada e, não menos importante, com condições salariais dignas.
Excluir qualquer que seja dessas dimensões no processo de mudanças educacionais, ou ainda estabelecer que no decorrer de um lustro seja possível modificar drasticamente, de forma responsável, a realidade da educação superior pública no país via termo de pactuação, com vistas ao atendimento das metas fixadas em Decreto, é, s.m.j., negligenciar ou mesmo desconhecer a complexidade e a abrangência das demandas do setor educacional brasileiro.
A não ser que estejamos tratando de expectativas distintas de desenvolvimento.
Na construção do amanhã o caminho está pela frente. Essa perspectiva é verdadeira mesmo quando se faz necessário retroceder. Voltar atrás. Nessas situações, basta ter coragem de dar meia volta e vislumbrar, de frente, o caminho a seguir. Isso porque, é caminhando que se constrói o caminho, ainda que parte desse caminho seja repleto de destruição.
Fernando Nogueira de Lima é doutorando em Engenharia Elétrica e ex-reitor da UFMT.
Fernando Nogueira de Lima
Em um país caracterizado por elevada concentração de renda, por severas desigualdades sociais, por uma taxa alarmante de analfabetismo e pela incidência da miséria em parcela significativa da sociedade. E mais, afrontado pela violência crescente e corroído pela corrupção desenfreada, calcadas na perspectiva da impunidade, não há o que se falar em contrário à adoção de políticas públicas com o fito de incrementar as oportunidades de acesso e de permanência nos diversos níveis que compõem a nossa educação formal.
No entanto, é imprescindível considerar que não dá para resolver essa questão fundamental da sociedade sem atentar previamente nas condições indispensáveis para que ela realmente possa existir. Em assumir propostas, aceitando palavra por palavra sem refletir e descer ao fundo do seu significado essencial e de seu objetivo real. Agindo dessa forma, corremos o risco de vivenciar um projeto ilusório de mudanças sociais que sequer pode ser incluído no universo da utopia.
A educação vista e exercida como um instrumento de libertação de um povo deve ser capaz de assegurar a inclusão social de todos os cidadãos e não apenas daqueles que por razões econômicas ou outras têm facilidade de acesso à educação.
Essa é uma premissa básica e óbvia. Todavia, e fundamentalmente, para além do acesso e das condições de permanência, a educação deve ensejar a visão crítica e reflexiva sobre a realidade nacional. Isso porque, o propósito deve ser assegurar as condições necessárias e suficientes para promover as mudanças sociais requeridas pela nação e os avanços demandados pelo desenvolvimento científico e tecnológico desejado para o país. Nesse contexto, a meu ver, o imperativo é que sejamos uma grande nação, não necessariamente um grande país.
As soluções para os inúmeros problemas que afligem a educação neste nosso vasto país não podem ser encontradas priorizando-se, a todo e qualquer custo, a quantidade no acesso à educação formal, associada à necessária redução dos níveis de evasão e ao aumento na média de concluintes.
Dessa forma conseguiremos, tão-somente, elevar nossos índices de desempenho nos relatórios oficiais e censos educacionais. Que não se apressem dizendo que sou contra a universalização do acesso à educação ou que sou favorável à reprovação em massa.
Muito pelo contrário, defendo o incremento do acesso à educação em todos os níveis e, em particular, no superior público aqui incluindo cursos noturnos em áreas cuja oferta se dá, tradicionalmente, nos períodos matutino e vespertino.
Além disso, tenho convicção de que o professor está em sala de aula principalmente para aprovar e não para simplesmente identificar limitações do aluno e, por causa delas, reprová-lo.
De outra forma dizendo: contribuir para que os alunos superem suas limitações, não importando a dimensão ou mesmo a natureza dessas limitações, representa tarefa necessária e intransferível do educador. Resta saber quantos de nós concordamos com isso ou em concordando, estamos preparados e exercendo essa tarefa. Portanto, creio que a questão de fundo não é quantitativa.
Qualitativa, essa sim é a sua natureza. Nesse sentido, há perguntas que não se fazem quando não se quer perguntar, quando não se quer saber a resposta ou quando não se sabe sequer que é uma pergunta a ser feita.
Duas delas: que profissional nós precisamos formar e que profissional estamos formando?
O primeiro questionamento nos remete a que modelo de desenvolvimento devemos perseguir na busca de uma sociedade menos injusta e excludente.
O segundo questionamento nos possibilita dizer se mudanças devem ser consideradas em relação a prática educacional vigente: formas de acesso, estruturas curriculares, práticas pedagógicas, paradigmas, etc. que têm influência direta no perfil e na formação do estudante.
Não bastasse, têm influência direta na visão de mundo, nas escolhas e também nas ações do cidadão: no exercício profissional, no cenário político e na sociedade como um todo.
Não dá para esconder o sol com uma peneira. Em grande parte o aluno é conseqüência da ação dos seus educadores. Isso é uma constatação insofismável. Porém, é preciso gritar que a ação desses educadores, por sua vez, depende, em grande parte, do exercício do magistério com condições materiais e práticas pedagógicas adequadas, com condições de atualização continuada e, não menos importante, com condições salariais dignas.
Excluir qualquer que seja dessas dimensões no processo de mudanças educacionais, ou ainda estabelecer que no decorrer de um lustro seja possível modificar drasticamente, de forma responsável, a realidade da educação superior pública no país via termo de pactuação, com vistas ao atendimento das metas fixadas em Decreto, é, s.m.j., negligenciar ou mesmo desconhecer a complexidade e a abrangência das demandas do setor educacional brasileiro.
A não ser que estejamos tratando de expectativas distintas de desenvolvimento.
Na construção do amanhã o caminho está pela frente. Essa perspectiva é verdadeira mesmo quando se faz necessário retroceder. Voltar atrás. Nessas situações, basta ter coragem de dar meia volta e vislumbrar, de frente, o caminho a seguir. Isso porque, é caminhando que se constrói o caminho, ainda que parte desse caminho seja repleto de destruição.
Fernando Nogueira de Lima é doutorando em Engenharia Elétrica e ex-reitor da UFMT.
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