Carta Resposta do Prof. Luiz Allan Kunzle ao Reitor
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Carta Resposta do Prof. Luiz Allan Kunzle ao Reitor
---------- Mensagem encaminhada ----------
From: Luis Allan Kunzle <kunzle@inf.ufpr.br>
To: bcc@inf.ufpr.br, bcc-colegiado <bcc-colegiado@c3sl.ufpr.br>, Professores do Departamento de Informatica <prof@inf.ufpr.br>
Date: Tue, 11 Sep 2007 14:27:19 +0000
Subject: Ainda o REUNI
Olá a todas e a todos,
Acabei de ler a carta do Reitor entitulada "Esclarecendo o REUNI" no
sítio da APUFPR (www.apufpr.org.br).
Como hoje há um debate no setor sobre o REUNI, resolvi comentar esta
carta. Faço com base no que tenho lido e debatido sobre este tema
(montei um conjunto de slides, que coloquei em
www.inf.ufpr.br/kunzle/reuni/).
O Reitor afirma que "Em primeiro lugar é preciso esclarecer que o
recurso destinado ao REUNI não terá qualquer contingenciamento por parte
do governo federal e não está atrelado ao limite de 1,5% do PIB com
gastos de pessoal, até porque já foi orçamentariamente definido pelo
Presidente da República para o Ministério da Educação". Há dois
problemas aqui. O primeiro é que deixa de mencionar que o governo atual,
assim como os anteriores, sempre contingenciou 20% do orçamento do MEC
para aumentar o superavit primário. Não há nenhuma promessa de que isso
mudará em 2008. O segundo problema é que o REUNI tem um horizonte que
vai além do governo atual. Temos portanto que contar com a boa vontade
do próximo governo.
No parágrafo seguinte temos "O MEC propõe um aumento de 20% no orçamento
global da Universidade para a contratação de novos professores e
servidores técnico-administrativos, bem como, alocou dois bilhões de
reais para o início das reformas físicas necessárias em todas as IFES.
Este aporte de recursos será feito em parcelas e de acordo com as metas
a serem atingidas pela instituição". O texto acima confunde. Basta ler o
decreto. Os 20% de aumento propostos pelo MEC na rubrica de ensino
superior são os 2 bilhões para infra-estrutura e custeio. Não é um
acrescido do outro. Até porque a contratação de novos docentes não muda
o problema da sobrecarga de trabalho, já que o decreto fixa a relação
alunos/docentes. Um aumento no denominador (docentes) implica um aumento
no numerador (alunos), para manter a relação em 18.
O pior, no entanto, é o sétimo parágrafo: "Em contrapartida, a única
coisa que o MEC pede é um aumento da eficiência, tanto na diplomação
quanto na relação estudante/professor. Os números da UFPR são os
melhores entre as IFES. Temos 74% de diplomação e 14 estudantes por
professor. Atingir as metas propostas pelo MEC não será tão difícil
assim. Ainda, o aumento de vagas noturnas é uma necessidade que todos
nós concordamos". O Reitor afirma que não será difícil atingir as metas.
Se a UFPR tem 14 estudantes por professor, passar para 18 significa um
aumento de 28,6%. Esses 28,6% atingem o tamanho das turmas, a carga
horária em sala de aula, o número de provas a serem corrigidas, etc.
Isso não muda com contratação de novos docentes, que terão que responder
com a mesma meta. Passar para 90% de diplomação parece implicar uma
perversão no modelo de qualidade que construímos, sobretudo quando não
há no horizonte um projeto de melhoria no ensino médio.
Como o Bacharelado em Ciência da Computação pode se comprometer com
essas metas?
O artigo do Reitor não comenta que o volume de alunos em pós-graduação
stricto-sensu da UFPR está muito abaixo das grandes universidades. Como
vamos melhorar nossos programas de mestrado e doutorado, tanto em termos
de orientação quanto de publicação com o aumento de trabalho associado
ao REUNI?
Finalmente, os sindicalistas são sempre acusados de panfletários. O
artigo do Reitor parece mais uma profissão de fé ou um discurso
eleitoral. Estamos em uma universidade e gostaríamos que a administração
superior, ao invés de nos classificar de "atrasados", respondesse com
dados objetivos como as metas do REUNI podem ser alcançadas, sem que
isso implique o aumento da sobrecarga ou piora das condições de trabalho
e de qualidade. É consenso na comunidade acadêmica que temos que
expandir a universidade pública, mas também é consenso que os recursos
atuais estão insuficientes. Dobrar a vazão de diplomados com apenas 20%
de investimento vai servir apenas para dourar as estatísticas dos
políticos.
E ainda nem se fala na não reposição das nossas perdas salariais ...
Luis Allan
From: Luis Allan Kunzle <kunzle@inf.ufpr.br>
To: bcc@inf.ufpr.br, bcc-colegiado <bcc-colegiado@c3sl.ufpr.br>, Professores do Departamento de Informatica <prof@inf.ufpr.br>
Date: Tue, 11 Sep 2007 14:27:19 +0000
Subject: Ainda o REUNI
Olá a todas e a todos,
Acabei de ler a carta do Reitor entitulada "Esclarecendo o REUNI" no
sítio da APUFPR (www.apufpr.org.br).
Como hoje há um debate no setor sobre o REUNI, resolvi comentar esta
carta. Faço com base no que tenho lido e debatido sobre este tema
(montei um conjunto de slides, que coloquei em
www.inf.ufpr.br/kunzle/reuni/).
O Reitor afirma que "Em primeiro lugar é preciso esclarecer que o
recurso destinado ao REUNI não terá qualquer contingenciamento por parte
do governo federal e não está atrelado ao limite de 1,5% do PIB com
gastos de pessoal, até porque já foi orçamentariamente definido pelo
Presidente da República para o Ministério da Educação". Há dois
problemas aqui. O primeiro é que deixa de mencionar que o governo atual,
assim como os anteriores, sempre contingenciou 20% do orçamento do MEC
para aumentar o superavit primário. Não há nenhuma promessa de que isso
mudará em 2008. O segundo problema é que o REUNI tem um horizonte que
vai além do governo atual. Temos portanto que contar com a boa vontade
do próximo governo.
No parágrafo seguinte temos "O MEC propõe um aumento de 20% no orçamento
global da Universidade para a contratação de novos professores e
servidores técnico-administrativos, bem como, alocou dois bilhões de
reais para o início das reformas físicas necessárias em todas as IFES.
Este aporte de recursos será feito em parcelas e de acordo com as metas
a serem atingidas pela instituição". O texto acima confunde. Basta ler o
decreto. Os 20% de aumento propostos pelo MEC na rubrica de ensino
superior são os 2 bilhões para infra-estrutura e custeio. Não é um
acrescido do outro. Até porque a contratação de novos docentes não muda
o problema da sobrecarga de trabalho, já que o decreto fixa a relação
alunos/docentes. Um aumento no denominador (docentes) implica um aumento
no numerador (alunos), para manter a relação em 18.
O pior, no entanto, é o sétimo parágrafo: "Em contrapartida, a única
coisa que o MEC pede é um aumento da eficiência, tanto na diplomação
quanto na relação estudante/professor. Os números da UFPR são os
melhores entre as IFES. Temos 74% de diplomação e 14 estudantes por
professor. Atingir as metas propostas pelo MEC não será tão difícil
assim. Ainda, o aumento de vagas noturnas é uma necessidade que todos
nós concordamos". O Reitor afirma que não será difícil atingir as metas.
Se a UFPR tem 14 estudantes por professor, passar para 18 significa um
aumento de 28,6%. Esses 28,6% atingem o tamanho das turmas, a carga
horária em sala de aula, o número de provas a serem corrigidas, etc.
Isso não muda com contratação de novos docentes, que terão que responder
com a mesma meta. Passar para 90% de diplomação parece implicar uma
perversão no modelo de qualidade que construímos, sobretudo quando não
há no horizonte um projeto de melhoria no ensino médio.
Como o Bacharelado em Ciência da Computação pode se comprometer com
essas metas?
O artigo do Reitor não comenta que o volume de alunos em pós-graduação
stricto-sensu da UFPR está muito abaixo das grandes universidades. Como
vamos melhorar nossos programas de mestrado e doutorado, tanto em termos
de orientação quanto de publicação com o aumento de trabalho associado
ao REUNI?
Finalmente, os sindicalistas são sempre acusados de panfletários. O
artigo do Reitor parece mais uma profissão de fé ou um discurso
eleitoral. Estamos em uma universidade e gostaríamos que a administração
superior, ao invés de nos classificar de "atrasados", respondesse com
dados objetivos como as metas do REUNI podem ser alcançadas, sem que
isso implique o aumento da sobrecarga ou piora das condições de trabalho
e de qualidade. É consenso na comunidade acadêmica que temos que
expandir a universidade pública, mas também é consenso que os recursos
atuais estão insuficientes. Dobrar a vazão de diplomados com apenas 20%
de investimento vai servir apenas para dourar as estatísticas dos
políticos.
E ainda nem se fala na não reposição das nossas perdas salariais ...
Luis Allan
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